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Vinicius de Moraes
Verbete
Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes teve vida intensa e apaixonada, pessoal e profissionalmente. Foi poeta, compositor, jornalista, dramaturgo e diplomata; escreveu versos, canções, crônicas, teatro, crítica de cinema.; foi modernista e ao mesmo tempo espiritualista, fundou movimentos musicais, caminhou por diferentes religiões; foi um homem do mundo e permanentemente brasileiro. Sobre Vinicius de Moraes falou o poeta Manuel Bandeira: “ele tem o fôlego dos românticos, a espiritualidade dos simbolistas, a perícia dos parnasianos (sem refugar, como estes, as sutilezas barrocas), e finalmente, homem bem do seu tempo, a liberdade, a licença, o esplêndido cinismo dos modernos”. Também contemporâneo de Vinicius, o poeta maior Carlos Drummond de Andrade comenta: "Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural", e finaliza de forma contundente, “foi o único de nós que teve a vida de poeta”.
Seus poemas e suas canções tiveram grande alcance popular e desde a década de 1970, poucos são, dentro dessas várias gerações, os que nunca travaram contato com Vinicius de Moraes, seja por uma canção, um soneto, uma crônica, uma crítica de cinema, uma frase de efeito, ou seja pelo folclore em torno da vida boêmia do poeta. Na música, foi parceiro de compositores que marcaram de modo indelével a cultura brasileira: Carlos Lyra, Pixinguinha, Francis Hime, Chico Buarque; mas foi sobretudo com Tom Jobim, Baden Powell e Toquinho que compôs a maior parte de seu cancioneiro, conhecido e reconhecido por tantas interpretações e gravações desde a sua estreia nos palcos. Em 1958, é lançado o disco "Canção do Amor Demais", com músicas suas em parceria com Tom Jobim. No LP, ouve-se, pela primeira vez, a batida da Bossa Nova, no violão de João Gilberto, com o samba "Chega de Saudade", considerado o marco inicial do movimento. Em 1962, compôs também com Tom Jobim uma das canções brasileiras mais conhecidas internacionalmente, “Garota de Ipanema”, interpretada, dentre muitos, por Frank Sinatra.
Na literatura, foi dos poucos poetas brasileiros que teve obra de fôlego, quantitativa e qualitativamente. Vinicius de Moraes escreveu muito e muito boa literatura. O percurso literário do poeta revela obra vasta e variada de um autor que reconhece as próprias nuances e mudanças. Em 1933, Vinicius publica, em plena consolidação do Modernismo Brasileiro, O caminho para a distância. Nesse primeiro livro, o autor ressalta aquilo que se tornou a marca da escrita numa primeira fase, chamada pelo próprio escritor de “mística e transcendental”, ao reconhecer um traço de religiosidade e culpa apoiado em um olhar metafísico de sua poesia. O vínculo com formas tradicionais, o uso de versos longos, caudalosos e de ritmo variado, que aparecem nesse livro, se intensificam em Forma e exegese (1935), sua próxima obra. A década de 30 foi bastante fértil para Vinicius e, depois dos dois primeiros livros, em 1936 sai, em separata, o poema Ariana, a mulher. No texto, permanece ainda a espiritualidade dos primeiros versos, embora o tom do poema alcance uma eloquência declamatória quase romântica.
Em 1938, a publicação do livro Novos Poemas marca um passo importante na obra do autor. Nesse livro cresce a força do sonetista: o poeta, com alguns bons sonetos anteriores, já havia indicado o caminho que agora começava a trilhar com segurança. É sabido que Vinicius insistiu desde a sua estreia nesta forma fixa e clássica realizando depois o exercício da métrica com maestria. Dentro de suas medidas, o poeta consegue movimentar-se de modo leve e musical, ora brincando com as regras ora aceitando-as. Poucos também são os que nunca ouviram falar no “Soneto de fidelidade” ou no “Soneto de separação”, peças exemplares da literatura brasileira reunidas no Livro de sonetos, publicado em 1957.
Considerada como a obra de transição de Vinicius, as Cinco elegias, publicadas em 1943, apresentam um lado social mais firme. A sede do mundo desejada pelo poeta marca uma espécie de “maturidade poética”, ao mesmo tempo em que intensifica o caráter pessoal.
Enfim, chega a vez de Poemas, Sonetos e Baladas, publicado em 1946. Nessa obra, a poesia atinge um espaço seguro e firme, calcificado no cotidiano descarnado e lúcido do tempo de Vinicius, que faz com que de seus versos se depreenda um lirismo veemente. A matéria poética aqui é a própria vida e suas consequências. A vida que se transforma em palavras, expressões rítmicas das sensações e sentimentos do mundo da existência. Poemas, sonetos e baladas pode sintetizar, num só organismo, os tentáculos mais firmes da poética de Vinicius: as cores, climas, imagens e ritmos do cotidiano, dispostos em curiosa confluência de textos.
Depois de Poemas, sonetos e baladas aparecem, cronologicamente: Antologia poética, de 1954, livro denso que apresenta, segundo o próprio autor, a “evolução” de sua obra; o Livro de sonetos, de 1957, texto bem uniforme e acabado e, em 1959, Novos poemas II. A partir daí, Vinicius – que desde a estreia demonstra ser um artista plural, impulsionado pela poesia, mas sempre experimentando outras artes, vai intensificar seu trabalho e levar sua lírica a outros cantos, a outros países.
Toda a obra de Vinicius de Moraes é de grande força e intensidade, mas alguns trabalhos ficaram como uma síntese de seu lirismo: a peça que originou o filme Orfeu Negro, de 1955, produzido por Sasha Gordine, as célebres canções “Garota de Ipanema” e o “Samba da bênção”, o Livro de sonetos, os livros de crônicas e poemas: Para viver um grande amor, de 1962, e Para uma menina com uma flor, de 1966. Essas produções têm sido constantemente revisitadas e reeditadas, confirmando o alcance desse artista que sempre se entregou à vida, em uma busca incessante pela paixão, pelo encontro, pela comunhão com o outro, como se vê bem representado no também muito conhecido verso do poeta: "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.
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Para saber mais
Referências
Vinicius de Moraes: poesia completa e prosa. Volume único. Organização: Eucanaã Ferraz. 4. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004.
CASTELLO, José. Vinicius de Moraes: o poeta da paixão – uma biografia. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
PALLOTINI, Renata. Vinicius de Moraes: aproximação. In: MORAES, Vinicius de. Vinicius de Moraes: poesia completa e prosa. Volume único. Organização: Eucanaã Ferraz. 4. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004.
CARMONA, Kaio. Um lírico dos tempos: erotismo e participação social na poesia de Vinicius de Moraes. São Paulo: Scortecci, 2006.
Textos traduzidos
MORAES, Vinicius. Antología sustancial de poemas y canciones. Edición bilíngue. Selección, traducción y notas de Cristian De Nápoli. Buenos Aires: Adriana Hidalgo, 2013.
MORAES. Vinicius. Antologia poética. Prólogo y traducción de Vicente Araguas. Madrid: Visor, 2002.
MORAES, Vinicius. Para una muchacha en flor. Buenos Aires: De la Flor, 2013.
NAVARRO, Raúl. Poesia moderna del Brasil. Traducción, selección y notas de Raúl Navarro. Buenos Aires: Editorial Raigal, 1956.
WENNER, Liana. Nuestro Vinicius. Vinicius de Moraes en El Río de la Plata. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 2010.
Autor/a do verbete
Kaio Carvalho Carmona. Ilustração: Rodrigo Rosa.
Palavras-chave
Bossa Nova | Cultura brasileira | Literatura brasileira > Modernismo | Poesia brasileira