Documentos
Metadados
Miniatura
Título
Monteiro Lobato
Verbete
Considerado por muitos o fundador da literatura infantil brasileira, e um dos mais influentes escritores da literatura nacional, José Bento Renato Monteiro Lobato, nasceu em Taubaté, interior de São Paulo, em 18 de abril de 1882, e faleceu em 4 de julho de 1948. Durante sua carreira literária, Monteiro Lobato foi contista, romancista, crítico literário, editor e tradutor de diversas obras internacionais.
Quando criança foi alfabetizado por sua mãe, Olímpia Monteiro Lobato, e desde cedo teve grande interesse pela leitura. Aos 11 anos de idade resolveu adotar o nome do pai, José Bento Marcondes Lobato, para que pudesse usar sua bengala, com as iniciais JBML, deixando de utilizar seu verdadeiro nome de registro, José Renato.
Monteiro Lobato foi um autor de grande referência no cenário da literatura brasileira do Pré-modernismo, período que antecedeu a Semana de Arte Moderna. Autor de mais de 90 livros, participou da tradução de mais de 100 outros, desde autores como Oscar Wilde (The Happy Prince, O príncipe feliz), Jonathan Swift (Gulliver’s Travels, As viagens de Gulliver) e Miguel de Cervantes (Don Quijote, Dom Quixote), a Lewis Carroll (Alice’s Adventures in Wonderland, Alice no País das Maravilhas) e os Irmãos Grimm (Grimm’s Fairy Tales, Contos de Grimm), entre outros grandes nomes da literatura internacional.
Desde a sua infância colaborava escrevendo para jornais escolares, e assim seguiu em sua fase adulta, com a publicação de seus contos em jornais e revistas. Posteriormente, alguns destes contos foram selecionados para compor seu primeiro livro Urupês (1918), com histórias aparentemente simples sobre a vida rural, em que trazia sua própria experiência pessoal, de quando herdou a fazenda de seu avô. Neste cenário, apresentou o personagem Jeca Tatu, um caipira preguiçoso e alienado ao mundo da cidade grande, e desta forma Lobato trazia à tona a miséria e a desigualdade do país, com o descaso para os que viviam no interior ou no campo.
O autor seguiu se destacando por seu papel social e caráter nacionalista, principalmente através de suas criações, que normalmente abordavam temas brasileiros. Outra obra com tema polêmico foi Cidades Mortas (1919), em que reunia textos de sua época de estudante, e alguns contos que escreveu antes de assumir o posto de Adido brasileiro nos Estados Unidos. Neste livro, falava sobre a grande crise do café e do desinteresse dos políticos pelas questões sociais.
Angustiado com o desenvolvimento da economia do Brasil, defendia a exploração do petróleo somente por companhias nacionais, chegando a fundar sua própria com esse intuito. Diante da burocracia federal, suas iniciativas fracassaram, porém sua indignação e suas críticas foram anunciadas ao público com o sucesso alcançado pelo livro O Escândalo do Petróleo (1936).
Membro da Academia Paulista de Letras, Lobato também revolucionou o mercado editorial no Brasil, pois até então grande parte das publicações eram feitas em Portugal ou França. Defendendo a ideia de que “Um país se faz com Homens e Livros”, em 1924 fundou a Editora Monteiro Lobato e Cia, que viria a se tornar posteriormente a Companhia Editora Nacional, buscando desenvolver um mercado industrial brasileiro de produção, distribuição e venda de livros em massa.
Mesmo tendo lançado várias obras para o público adulto, sua grande paixão era escrever para crianças, e, insatisfeito com o que havia disponível para este público-alvo, buscou, por meio da Literatura Fantástica, inovar no mundo da literatura infantil e juvenil, vindo a se tornar o fundador desse gênero literário em âmbito nacional. Seus contos eram escritos com uma linguagem acessível e coloquial, sem no entanto deixar de trazer grandes reflexões metafóricas por trás dos personagens e suas falas.
Sua preocupação com a estética literária leva Monteiro Lobato a incorporar suas próprias experiências de criança, quando brincava com as irmãs de transformar legumes e sabugos de milho em animais e bonecos, relembrando as histórias contadas pelos nativos, as pescas, as caças e brincadeiras na mata, para dar vida a este novo universo da imaginação infantil, e lançar, em 1921, A Menina do Narizinho Arrebitado, o primeiro dos 23 livros de contos infantis da sua coleção sobre o Sítio do Pica-Pau Amarelo, que incluem também obras como Reinações de Narizinho (1931), Caçadas de Pedrinho (1933), Emília no País da Gramática (1934) e O Pica-Pau Amarelo (1939), dentre outras tantas, sempre com o olhar voltado para elementos folclóricos e mitos próprios da cultura brasileira.
Personagens como a D. Benta, dona do Sítio, que encorajava as crianças e os bonecos a serem independentes e desenvolver opiniões críticas acerca da história; Tia Anastácia, adorada por todos no Sítio, mas que representava a condição dos negros mesmo após abolição da escravatura em 1888 – atualmente muitas referências feitas a esta personagem nos livros são questionadas por apresentarem cunho racista; Narizinho, a neta de D. Benta; Pedrinho, o menino da cidade grande; a boneca de pano Emília, engraçada e geniosa, que dizia o que pensava sem receio, trazendo voz ao que supostamente não deveria ser dito no mundo dos ‘Homens’; além dos personagens fantásticos que cativaram a todos e ainda despertam o interesse do público infantil, jovem e adulto, completam 100 anos em 2021.
Além de adaptadas para o cinema nacional, as obras de Monteiro Lobato foram traduzidas e publicadas no exterior em idiomas como o inglês, italiano, japonês, alemão e árabe, entre outros, mas foi em espanhol que ganhou maior destaque por terem sido todas publicadas na Argentina. Desde Janeiro de 2019 as obras do autor estão em Domínio Público, podendo ser adaptadas e publicadas livremente. No Brasil, desde 1953 promove-se a ‘Semana de Monteiro Lobato’, evento artístico-cultural e pedagógico que acontece anualmente em torno do dia 18 de abril, data de nascimento do escritor, que, em sua homenagem, foi definido por Lei como o ‘Dia Nacional da Literatura Infantil’.
Temas
Autores/as
Referências
FRANCA, V.G. “Nosso Jeca e nossa Emília vão ao Exterior: As Traduções das Obras de Monteiro Lobato”. In: Miscelânea, vol 6, 2009, p. 40-57.
OLIVEIRA, M. C. C. & CAMPOS, G. C.. “O pensamento e a prática de Monteiro Lobato como tradutor”. In: Ipotesi, vol 13, n 1, Jan-Jul 2009, p. 67-79
Enciclopédia Itaú Cultural https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa59/monteiro-lobato
DITRA – Dicionário de Tradutores Literários do Brasil www.dicionariodetradutores.ufsc.br
PROJETO MEMÓRIA http://www.projetomemoria.art.br/MonteiroLobato/index2.html
Textos traduzidos
MILTON, J. “A Titan of Brazilian Literature: John Minton on José Bento Monteiro Lobato”. Entrevista concedida a Shelly Bhoil. In: ASYMPTOT Journal, March 18, 2020.
https://www.asymptotejournal.com/blog/2020/03/18/a-titan-of-brazilian-literature-john-milton-on-jose-bento-monteiro-lobato/
O SÍTIO DO PICAPAU AMARELO. In: World Heritage Encyclopedia http://worldheritage.org/articles/eng/S%C3%ADtio_do_Picapau_Amarelo
SUMMARY BIBLIOGRAPHY: MONTEIRO LOBATO. In: Internet Speculative Fiction Database http://www.isfdb.org/cgi-bin/ea.cgi?205393
LOBATO, M. TOTES LAND Cidades Mortas. Idioma: Alemão. Tradução de Clemans Brandemburger, 1917.
LOBATO, M. Contos: “The Penitent Wag” O Engraçado Arrependido; “Modern Torture” Suplício Moderno e “The Plantation Buyer” O Comprador de Fazendas. In: Brazilian Short Stories – Little Blue Books nº 7331. Idioma: Inglês. Tradução de Isaac Goldberg, 1925.
LOBATO, M. NASINO. Reinações de Narizinho. Idioma: Italiano. Tradução de Ana Bovero, 1945.
LOBATO, M. Las travesuras de naricita. Reinações de Narizinho. Idioma: Espanhol. Tradução de Ramon Prieto, 1944.
LOBATO, M. Orden jioltogo diatla. Reinações de Narizinho. Idioma: Russo. Tradução /Adaptação: S/N, 1961.
LOBATO, M. La Vengeance de l’Arbre et Autres Contes. Urupês, Negrinha e outros contos. Idioma: Francês. Tradução de Georgette Tavares Bastos, 1967.
LOBATO, M. Itazura youkai sasshi. O Saci. Idioma: Japonês. Tradução de Masao Kosaka, 2013.
Autor/a do verbete
Gisele Tyba Mayrink Orgado. Ilustração: Rodrigo Rosa.